Como prometido para as meninas (e pro Schneeberger) lá no acampamento, vai aqui uma análise tosca, a mais curta possível, nua e crua do que chamaram de Revolução Constitucionalista ou Revolução Paulista de 1932, que deu origem ao feriadaço maravilhoso do dia 9 de julho que me rendeu muita diversão e um puta resfriado.
Não sou historiador, professor ou jornalista, sou apenas um blogueiro curioso, pesquisador afoito e palpiteiro... Não recomendo o uso deste material na cola da sua prova do colégio, ou você pode tirar um zero bem redondo
Desde os primeiros anos do século passado, nossos políticos já faziam um troca-troca previamente combinado, se revezando no poder. Ora alguém de São Paulo, o rico produtor de café, ora de Minas Gerais, dono dos maiores rebanhos de gado leiteiro, era nomeado presidente. Era a tal da "política café-com-leite" que a prô de história falou naquela aula que você dormiu.
Até que um certo paulista metido a besta de nome Washington Luiz resolveu furar o esquema e nomear pra seu sucessor o conterrâneo Júlio Prestes, tirando a vez dos mineiros na presidência do país e eles ficaram fulos da vida, se amotinaram e apoiaram um golpe que levou o gaúcho de São Borja Getúlio Dorneles Vargas ao poder pela primeira vez no ano 30.
Não antes de muita revolta, muito tiroteio, fraudes, marmeladas e maracutaias típicas dos bastidores do poder tupiniquim que perduram até nossos dias - basta ler os jornais de "hoje", seja hoje o dia que for.
Em 11 de novembro de 1930 ele fechou o Congresso Nacional, Congressos Estaduais e Câmaras Municipais e fez aquelas patifarias todas que você já sabe: governava por decretos, suspendeu garantias constitucionais, deu plenos poderes aos militares, nomeava e exonerava quem bem entendia, aposentou na marra muitos funcionários que eram contra ele, etc & tal. Ditador dos bons mesmo o cara. Qualquer semelhança com algum governante de hoje... Deixa pra lá!
O riograndense Vargas não só tomou o poder no Rio de Janeiro (a capital do Brasil era lá) como um ditador, mas também começou a meter o nariz no governo de São Paulo, que estava sendo tratado como uma terra conquistada, incomodando a elite paulista (vaidade é cruel) a tal ponto que os bam-bam-bam da terra do café resolveram ir pra cima do governo federal, exigindo o fim da porcaria da ditadura e a promulgação de uma nova Constituição.
Em 23 de maio de 1932, na Terra da Garoa, quatro jovens constitucionalistas foram assassinados por gente da Região Revolucionária, ligada à ditadura de Getúlio Vargas, o povo tentou invadir a sede deles e foi recebido a bala, então o peitudo Pedro de Toledo rompeu relações com o governo federal. A data é hoje reverenciada como o "Dia do Soldado Constitucionalista".
Os jovens mortos foram Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, cujas iniciais MMDC deram nome a um movimento secreto iniciado no dia 24 de maio que tramou furtivamente a derrubada da Ditadura Vargas.
Na verdade Vargas até já havia manifestado interesse na elaboração de uma nova Constituição, mas o orgulho dos bacanas paulistas estava muito ferido, eles queriam o poder a qualquer custo e se sentiam humilhados tendo um governo de intervenção e sendo obrigados a engolir um comandante da Polícia Militar (olha ela aí) que já tinha sido expulso por tramar contra os paulistas.
Assim, no dia 9 de julho de 1932, os paulistas pegaram em armas, formando uma milícia composta por militares e civis e se meteram com o governo federal de Vargas. De 200.000 voluntários, pelo menos uns 60.000 foram pra guerra pra valer.
Esperavam apoio de outros estados, mas salvo uma ou outra ajudinha aqui e ali, foram traídos, especialmente pelo Rio Grande do Sul, que parecia estar do lado dos paulistas, mas acabou lutando contra eles.
Um monte de gente defendia o separatismo, propondo que São Paulo se tornasse uma república autônoma, independente do resto do Brasil (o mapa ia ficar feio pra k-rai). Naquele tempo devia dar orgulho de ser paulista, não?
São Paulo foi cercado e isolado e não conseguia nem comercializar com outros estados, tendo até criado uma moeda própria para sua economia sobreviver, mas a turma de Vargas falsificou o dinheiro paulista aos montes e encheu Sampa da grana podre, provocando sua desvalorização.
Foi para dar lastro a essa moeda que o povo doava "ouro para o bem de São Paulo" (teoricamente só se emitia dinheiro no mercado se pudesse "pagar" por ele em ouro). Muito cidadão arrancou dos dedos seus anéis e suas alianças de ouro para doá-los por uma causa.
"Moeda Paulista, feita só de alianças, feita do anel com que Nosso Senhor uniu na terra duas esperanças: feita dos elos imortais do amor! Quanto vale essa moeda? Vale tudo!
Seu ouro eternizava um grande ideal: e ela traduz o sacrifício mudo daquela eternidade de metal.
Ela, que vem na mão dos que se amaram, Vale esse instante, que não teve fim, em que dois sonhos juntos se ajoelharam, quando a felicidade disse: SIM.
Vale o que vale a união de duas vidas, que riram e choraram a uma só voz e, simbolicamente desunidas, vão rolar desgraçadamente sós.
Vale a grande renúncia derradeira das mãos que acariciaram maternais, o menino que vai para a trincheira, e que talvez... talvez não volte mais...
Vale mais do que o ouro maciço: vale a glória de amar, sorrir, chorar, lutar, morrer e vencer... Vale tudo isso que moeda alguma poderá comprar!" (Guilherme de Almeida)
Armas que chegavam eram confiscadas pelos militares a mando de Vargas e os paulistas ficavam cada vez mais fracos, impotentes diante do poderio militar do Governo Provisório da República. Os revoltosos de São Paulo chegaram a fabricar várias armas e até inventaram um troço que fazia só barulho pra assustar o inimigo, a matraca, que imitava uma metralhadora. Até um trem blindado foi feito.
Paulo Virgínio, um agricultor do município paulista de Cunha, foi torturado até a morte pelas tropas do ditador, que o obrigaram a cavar a própria sepultura e ele repetia apenas: "Morro, mas São Paulo vence!".
O agricultor morreu para não caguetar para os fluminenses onde é que estavam as tropas paulistas e graças ao seu martírio, pelo menos em Cunha os paulistas venceram.
Seu corpo foi levado para o Mausoléu dos Heróis, no Ibirapuera e aquela rodovia perigosa, esburacada e muito mal cuidada (sugestivamente denominada SP-171) que passa pela cidade e que estão recapeando a passo de tartaruga recebeu seu nome em sua justa homenagem.
O Obelisco que você vê no Parque Ibirapuera, na capital (foto abaixo), foi construído justamente para homenagear os Heróis da Revolução Constitucionalista (heróis é o mesmo que "aquele que morre pelos outros").
Bom... lá pelo dia 2 de outubro, vendo que a coisa tava preta e acumulando derrotas, deserções e mais de seiscentos defuntos em suas fileiras, os revoltosos paulistas acabaram afinando e a carnificina teve fim. Depois disso os anos foram passando e o Getúlio Vargas fez as pazes com São Paulo... Ficou bonzinho... Virou "pai dos pobres"... Virou "o presidente mais importante do Brasil"... E se matou! Foi isso.
Não sou historiador, professor ou jornalista, sou apenas um blogueiro curioso, pesquisador afoito e palpiteiro... Não recomendo o uso deste material na cola da sua prova do colégio, ou você pode tirar um zero bem redondo
SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA
Desde os primeiros anos do século passado, nossos políticos já faziam um troca-troca previamente combinado, se revezando no poder. Ora alguém de São Paulo, o rico produtor de café, ora de Minas Gerais, dono dos maiores rebanhos de gado leiteiro, era nomeado presidente. Era a tal da "política café-com-leite" que a prô de história falou naquela aula que você dormiu.
Até que um certo paulista metido a besta de nome Washington Luiz resolveu furar o esquema e nomear pra seu sucessor o conterrâneo Júlio Prestes, tirando a vez dos mineiros na presidência do país e eles ficaram fulos da vida, se amotinaram e apoiaram um golpe que levou o gaúcho de São Borja Getúlio Dorneles Vargas ao poder pela primeira vez no ano 30.
Não antes de muita revolta, muito tiroteio, fraudes, marmeladas e maracutaias típicas dos bastidores do poder tupiniquim que perduram até nossos dias - basta ler os jornais de "hoje", seja hoje o dia que for.
Em 11 de novembro de 1930 ele fechou o Congresso Nacional, Congressos Estaduais e Câmaras Municipais e fez aquelas patifarias todas que você já sabe: governava por decretos, suspendeu garantias constitucionais, deu plenos poderes aos militares, nomeava e exonerava quem bem entendia, aposentou na marra muitos funcionários que eram contra ele, etc & tal. Ditador dos bons mesmo o cara. Qualquer semelhança com algum governante de hoje... Deixa pra lá!
GETÚLIO VARGAS FERROU SÃO PAULO
O riograndense Vargas não só tomou o poder no Rio de Janeiro (a capital do Brasil era lá) como um ditador, mas também começou a meter o nariz no governo de São Paulo, que estava sendo tratado como uma terra conquistada, incomodando a elite paulista (vaidade é cruel) a tal ponto que os bam-bam-bam da terra do café resolveram ir pra cima do governo federal, exigindo o fim da porcaria da ditadura e a promulgação de uma nova Constituição.
Em 23 de maio de 1932, na Terra da Garoa, quatro jovens constitucionalistas foram assassinados por gente da Região Revolucionária, ligada à ditadura de Getúlio Vargas, o povo tentou invadir a sede deles e foi recebido a bala, então o peitudo Pedro de Toledo rompeu relações com o governo federal. A data é hoje reverenciada como o "Dia do Soldado Constitucionalista".
Os jovens mortos foram Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, cujas iniciais MMDC deram nome a um movimento secreto iniciado no dia 24 de maio que tramou furtivamente a derrubada da Ditadura Vargas.
Na verdade Vargas até já havia manifestado interesse na elaboração de uma nova Constituição, mas o orgulho dos bacanas paulistas estava muito ferido, eles queriam o poder a qualquer custo e se sentiam humilhados tendo um governo de intervenção e sendo obrigados a engolir um comandante da Polícia Militar (olha ela aí) que já tinha sido expulso por tramar contra os paulistas.
Assim, no dia 9 de julho de 1932, os paulistas pegaram em armas, formando uma milícia composta por militares e civis e se meteram com o governo federal de Vargas. De 200.000 voluntários, pelo menos uns 60.000 foram pra guerra pra valer.
Esperavam apoio de outros estados, mas salvo uma ou outra ajudinha aqui e ali, foram traídos, especialmente pelo Rio Grande do Sul, que parecia estar do lado dos paulistas, mas acabou lutando contra eles.
Um monte de gente defendia o separatismo, propondo que São Paulo se tornasse uma república autônoma, independente do resto do Brasil (o mapa ia ficar feio pra k-rai). Naquele tempo devia dar orgulho de ser paulista, não?
TESOUROS, TRAMÓIAS, TRAPAÇAS E TORTURAS
São Paulo foi cercado e isolado e não conseguia nem comercializar com outros estados, tendo até criado uma moeda própria para sua economia sobreviver, mas a turma de Vargas falsificou o dinheiro paulista aos montes e encheu Sampa da grana podre, provocando sua desvalorização.
Foi para dar lastro a essa moeda que o povo doava "ouro para o bem de São Paulo" (teoricamente só se emitia dinheiro no mercado se pudesse "pagar" por ele em ouro). Muito cidadão arrancou dos dedos seus anéis e suas alianças de ouro para doá-los por uma causa.
"Moeda Paulista, feita só de alianças, feita do anel com que Nosso Senhor uniu na terra duas esperanças: feita dos elos imortais do amor! Quanto vale essa moeda? Vale tudo!
Seu ouro eternizava um grande ideal: e ela traduz o sacrifício mudo daquela eternidade de metal.
Ela, que vem na mão dos que se amaram, Vale esse instante, que não teve fim, em que dois sonhos juntos se ajoelharam, quando a felicidade disse: SIM.
Vale o que vale a união de duas vidas, que riram e choraram a uma só voz e, simbolicamente desunidas, vão rolar desgraçadamente sós.
Vale a grande renúncia derradeira das mãos que acariciaram maternais, o menino que vai para a trincheira, e que talvez... talvez não volte mais...
Vale mais do que o ouro maciço: vale a glória de amar, sorrir, chorar, lutar, morrer e vencer... Vale tudo isso que moeda alguma poderá comprar!" (Guilherme de Almeida)
Armas que chegavam eram confiscadas pelos militares a mando de Vargas e os paulistas ficavam cada vez mais fracos, impotentes diante do poderio militar do Governo Provisório da República. Os revoltosos de São Paulo chegaram a fabricar várias armas e até inventaram um troço que fazia só barulho pra assustar o inimigo, a matraca, que imitava uma metralhadora. Até um trem blindado foi feito.
Paulo Virgínio, um agricultor do município paulista de Cunha, foi torturado até a morte pelas tropas do ditador, que o obrigaram a cavar a própria sepultura e ele repetia apenas: "Morro, mas São Paulo vence!".
O agricultor morreu para não caguetar para os fluminenses onde é que estavam as tropas paulistas e graças ao seu martírio, pelo menos em Cunha os paulistas venceram.
Seu corpo foi levado para o Mausoléu dos Heróis, no Ibirapuera e aquela rodovia perigosa, esburacada e muito mal cuidada (sugestivamente denominada SP-171) que passa pela cidade e que estão recapeando a passo de tartaruga recebeu seu nome em sua justa homenagem.
O Obelisco que você vê no Parque Ibirapuera, na capital (foto abaixo), foi construído justamente para homenagear os Heróis da Revolução Constitucionalista (heróis é o mesmo que "aquele que morre pelos outros").
Bom... lá pelo dia 2 de outubro, vendo que a coisa tava preta e acumulando derrotas, deserções e mais de seiscentos defuntos em suas fileiras, os revoltosos paulistas acabaram afinando e a carnificina teve fim. Depois disso os anos foram passando e o Getúlio Vargas fez as pazes com São Paulo... Ficou bonzinho... Virou "pai dos pobres"... Virou "o presidente mais importante do Brasil"... E se matou! Foi isso.
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