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10 de maio de 2011

Norte de Minas pode virar deserto em 20 anos

um terço do estado será afetado pelo fenômeno (imagem BNB)

Todos os municípios do centro-norte e nordeste do estado de Minas Gerais correm o risco de se tornarem um vasto deserto nos próximos 20 anos, esterilizando o solo, afetando diretamente cerca de 2,2 milhões de pessoas e provocando reflexos climáticos adversos também em outras regiões, com alterações de regime de chuvas, temperatura e até mesmo dos ventos, além da extinção de espécies endêmicas.

O trecho, contínuo, representa um terço de todo o território mineiro e está em zona de transição de três biomas: mata atlântica, caatinga e cerrado, em tênue equilíbrio. A parte mais sensível, conhecida como semi-árido mineiro, é uma das regiões mais pobres do Brasil e abrange mais da metade dos 142 municípios afetados.

menino pobre do norte de MG na era FHC (Foto: Veja)

A desertificação eminente é a conclusão de um estudo do Ministério do Meio Ambiente apresentado em março e aponta práticas humanas equivocadas como o desmatamento, a pecuária intensiva e a monocultura como causadores do desastre ambiental, cuja única chance de retardar ou impedir é o investimento de R$ 1,3 bilhão em recuperação ambiental, além da interrupção imediata dos agentes provocadores.

Um das consequências mais perceptíveis, em se confirmando a previsão, será o aprofundamento da miséria e um intenso movimento migratório. A terra não dará mais sustentação à fixação de plantas e perderá o valor econômico.

As espécies animais e vegetais de toda a região deverão ser eliminadas, ou reduzidas drasticamente. Talvez esse venha a ser o maior desastre ambiental brasileiro, jamais visto, uma das maiores catástrofes ambientais no mundo. A morte de rios já é uma realidade.

efeito já é notado no vale do Jequitinhonha (Foto: A Tarde)

Décadas de práticas agrícolas e pecuárias inadequadas já provocam prejuízos aos pequenos proprietários rurais da região, que percebem suas lavouras secarem com a escassez de chuvas e empobrecimento do solo e seus rebanhos perderem peso. Quem já teve fartura, hoje depende de ajuda dos programas sociais do governo para sobreviver.

Urge cessar a derrubada de árvores e a produção de carvão, prevenir as queimadas, tirar o gado das pastagens, diversificar e racionalizar as culturas, recompor as matas ciliares, recuperar a fertilidade do solo, promover um intenso reflorestamento, repovoando de plantas nativas as bacias hidrográficas dos rios Jequitinhonha e Mucuri, para a manutenção do equilíbrio ecológico, sob pena do processo de desertificação atingir o ponto de tornar-se irreversível.

crianças pobres no norte de MG na era FHC (Foto: Love7)

Não podemos ignorar a responsabilidade do poder público. Especula-se que nos 8 anos à frente do governo do estado de Minas Gerais, o todo poderoso neto de Tancredo Neves e hoje senador Aécio Neves (PSDB), teria gastado, só em propaganda de governo, o suficiente para resolver todo o problema ambiental do estado. Relembrando que eram proibidas críticas ao governo...

"O governo Aécio Neves recorreu à força do marketing para afirmar os efeitos supostamente positivos do 'choque de gestão' implementado em Minas e, indiretamente, divulgar a própria imagem. O gasto total com publicidade do Estado de 2003 a 2009, em valores corrigidos, ultrapassou a cifra de R$ 1 bilhão." Clique sobre o trecho em destaque para ler  o texto integral na origem.

Cidade Administrativa Tancredo Neves (Foto: Aecio Blog)

Outro gasto do governo mineiro na gestão do PSDB que daria com folga para suprir as despesas de recuperação ambiental do estado, foi a construção do palácio de governo chamado de Cidade Administrativa Tancredo Neves (homenagem ao avô do então governador), obra  faraônica assinada por Oscar Niemeyer, construído por ele em Belo Horizonte, que teria consumido R$ 1,4 bilhão e que antes de ficar pronto já estaria transparecendo sérios problemas estruturais.

Ao que parece, os tucanos são tão bons para o Brasil que conseguem criar até desertos!

Aécio Neves sorrindo ao lado de José Serra no velório de José de Alencar

MISÉRIA NA REGIÃO É HERANÇA DA ERA FHC

O texto abaixo, de fazer chorar, foi publicado na revista Veja, edição 1735, de 23 de janeiro de 2002 e pode ser acessado clicando aqui. A matéria indicava a existência de miséria e desnutrição no Brasil, no final do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A situação era crítica, especialmente na região mineira do Vale do Jequitinhonha.

Depois da reportagem, muita coisa mudou: onde já havia miséria está acontecendo uma catástrofe ambiental. Onde já havia fome, onde já não havia comida, está surgindo um deserto.
"No dia 11 de dezembro do ano passado, a médica Iara Vianna da Silva esteve no barraco onde mora o pequeno Mateus Barbosa de Souza, em Itinga, Minas Gerais. O garoto vive com o pai, a mãe e três irmãos no bairro mais pobre da cidade, localizada no paupérrimo Vale do Jequitinhonha. Aos 3 anos e meio, Mateus é vítima de um tipo de desnutrição conhecida como kwashiorkor, palavra importada da África, onde a doença foi descrita pela primeira vez no início do século passado. De tão prevalente na África, kwashiorkor tem definições em vários dialetos tribais. Num deles, falado em Gana, a palavra designa originalmente a criança que não pode ser alimentada pelo leite materno. Mateus tem a altura de um garoto de 1 ano e 7 meses e o peso de um bebê de apenas 8 meses. A doença atinge crianças que, privadas da proteína encontrada no leite materno, num primeiro momento, e mais tarde na carne, se alimentam basicamente de carboidratos. Numa etapa inicial, o mal produz fadiga, irritabilidade e letargia. O quadro inclui diarréia, anemia e retardamento motor. Mateus, por exemplo, não anda. Não tratada, a doença evolui, a imunidade do paciente cai e o corpo incha. Aparentemente ele está apenas gordinho. É nessa fase que se encontra Mateus. Nos casos mais graves, podem ocorrer deficiência mental e morte. Mesmo tratada, a criança que teve kwashiorkor dificilmente atinge altura e peso normais. Acostumada a diagnosticar casos de desnutrição, a médica entregou à mãe do garoto uma receita com o seguinte teor: 'Mateus B. Souza – Ao Serviço Social: Criança desnutrida. Kwashiorkor. Cesta básica. Precisa comida. Vai morrer. Não anda. Se pegar infecção, morre'."

capa da edição da revista Veja mostrando a miséria na era FHC

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